EDUCAÇÃO REMOTA, SEUS DESAFIOS E OPORTUNIDADES

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EDUCAÇÃO REMOTA, SEUS DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Educação remota emergencial x EaD: desafios e oportunidades

 

 

 

Edney Carlos G. Chavier

Professor Subistituto de Química na rede Estadual do Ceará (EM Maria Leal Teixeira) e Coordenador Acadêmico da CESUPE (Parceira de IES com Polos EaD).

 

 

Desde o início da pandemia, causada pelo VÍRUS COVID-19, venho acompanhando, atônitos, as notícias. Após essa turbulência uma coisa é fato: a sociedade não será mais a mesma. Seja nas relações internacionais, na vida social e familiar, no cenário político, econômico ou educacional. É de consenso até dos mais sensatos que o cenário mundial está se modificando e que a tecnologia tornou-se uma grande aliada de todos.

No Brasil, nestes últimos meses, vivenciamos empresas, comércios, famílias e profissionais se reinventando por meio da tecnologia. A recriação dos espaços físicos ganhou notoriedade no mundo virtual. Muitos profissionais liberais, como, por exemplo, psicólogos, personal trainer e nutricionistas, passaram rapidamente seus atendimentos presenciais para encontros a distância, amenizando possíveis impactos negativos em sua própria vida econômica. O isolamento social está nos ensinando a ser menos resistência e mais resiliência com relação a tudo que no rodeia.

No cenário educacional brasileiro, fazendo uma analise, apenas as notícias e as postagens nas redes sociais, observa-se a notória mobilização das instituições de ensino (na educação básica e superior) para atender milhares de alunos. E elas estão apostando nos recursos tecnológicos para dar continuidade, na medida do possível, ao processo de ensino e aprendizagem sem maiores prejuízos à vida acadêmica. É claro que não podemos caracterizar este cenário como o ideal qualitativo. De qualquer forma, todo esse movimento, em consonância com as portarias ministeriais em caráter emergencial, está ajudando a impulsionar novas perspectivas em relação à educação brasileira. Se antes achávamos que a educação caminhava a passos lentos para um modelo mais híbrido, hoje comemoramos não somente a reverência súbita à educação a distância e à aceleração do modelo híbrido, como também - e talvez - uma oportunidade para um novo modelo a ser praticado no Brasil: o remoto. 

Modelo este que vem sendo erroneamente tratado pela mídia, por educadores e por instituições de ensino, em especial as que ofertam cursos presenciais, como sendo educação a distância (EaD). Cabe ressaltar que os princípios básicos da EaD estão pautados em um processo de ensino e aprendizagem mediado por tecnologia, com apoio de tutores, de forma atemporal, com carga horária diluída nos mais diversificados recursos midiáticos de interação que compõem atividades síncronas e assíncronas e com encontros presenciais, obrigatórios, somente para avaliações, desenvolvimento de projetos e práticas.

Já o modelo remoto, praticado atualmente em caráter emergencial por diversas instituições de ensino (na educação básica e superior), assemelha-se à EaD no que se refere a uma educação mediada por tecnologia. Contudo, é uma prática temporal em que se respeita a carga horária diária da disciplina, com conteúdos integralmente ministrados pelo professor, com atividades síncronas e ainda assim, com a confirmação de presencialidade dos alunos. O modelo remoto está configurado para os princípios da educação presencial em que docentes e discentes deixaram de coexistir em espaço físico para coexistirem em um ambiente virtual. É importante considerar que não existia um plano de contingência educacional ou administrativo em caso de isolamento social. Neste sentido, muitas das entidades educacionais brasileiras não estavam preparadas, tecnologicamente, para atender esta emergência e os recursos que estão sendo utilizados não são proprietários.

Mesmo diante do esforço de não acarretar prejuízos na vida acadêmica dos alunos, é notório que algumas instituições e professores não estão, minimamente, preparados para a educação mediada pela tecnologia. Isso reforça que a educação, de maneira geral, ainda é guiada por métodos tradicionais, que a tecnologia ainda é vista como um fim e não como um meio e que para alguns professores faltam habilidades e competências digitais que não são (ou foram) inerentes a sua formação, por isso há uma necessidade de formação aos docentes e discentes, além de equipar-se. 

Nesse sentido, é fundamental que sejam criadas diretrizes personalizadas para as aulas no modelo remoto, assim como são criadas na modalidade presencial ou a distância. As primeiras padronizações são criadas nas semanas pedagógicas, no início do semestre ou ano letivo, quando as coordenações se reúnem com o corpo docente, organizam e definem as estratégias para as aulas, as avaliações que serão aplicadas, bem como os softwares e outras tecnologias que serão disponibilizadas pela instituição de ensino (na educação básica e superior). Com base nesses padrões, o professor elabora seu plano de aula adequando o conteúdo da disciplina as suas metodologias, avaliações, entre outras atividades relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem. 

Em virtude do caráter emergencial, espera-se das instituições de ensino (na educação básica e superior) o apoio tecnológico e regras bem objetivas e definidas para o formato personalizado do modelo remoto. O professor deve receber instruções prévias do que a instituição considera essencial para sua aula remota. Dessa forma, o uso de roteiros de aula, aplicação de vídeos autorais, interações e avaliações online, uso de podcasts, criação de grupos em aplicativos de mensagens instantâneas; lives em redes sociais, utilização de ambientes virtuais ou outros sistemas não proprietários devem ter regras bem definidas por parte da instituição. Essas definições garantem a continuidade e fortalecem a confiabilidade do professor diante do novo desafio que é ensinar remotamente. É importante enfatizar que a autonomia do docente em sala de aula (física ou virtual) não está sendo questionada, pois se faz necessária e deve ser respeitada.

Cabe à instituição de ensino (na educação básica e superior)c, também, orientar o professor sobre como organizar o seu ambiente de trabalho em casa (home office), pois algumas informações como cenário, luz, vestimenta, dicção, testes de áudio e vídeo, maquiagem, postura e enquadramento da câmera, são relevantes para a qualidade da sua aula, que será transmitida ao vivo para os alunos. Outro aspecto que cabe à instituição de ensino apoiar, é na conscientização de que o professor entrará, mesmo que virtualmente, nas casas das famílias. Sua aula será vista não somente pelos alunos, mas por pais, irmãos, avós, tios, amigos, sobrinhos, companheiros, entre outras pessoas que estiverem no convívio de isolamento daquele discente. É preciso que o professor transmita não somente sabedoria, mas também ética, confiança, postura, alegria, empatia, compaixão e, principalmente, respeito ao lar do próximo.

Por outro lado, cabe destacar também o quanto essa troca abrupta de modalidade, associada à situação em que estamos vivendo, interfere no processo de aprendizagem do aluno. O impacto não é somente o transtorno de readequação da educação, não é somente o prejuízo financeiro ou administrativo. A questão envolve o emocional. Envolve a família. E tudo isso influencia a aprendizagem, a motivação e o interesse em se desenvolver. 

Estamos em um momento delicado que envolve incertezas, frustrações, desapontamentos, ansiedade, desânimos, entre outros sentimentos. Nós, professores, que estamos na linha de frente, devemos (ou pelo menos tentar) ser mais empáticos. Não devemos e não podemos considerar somente o conteúdo a ser ministrado, mas lembrar que somos formadores, mediadores, facilitadores e, neste cenário pandêmico, ser resilientes, acolhedores, mostrar que estamos preparados para a profissão que escolhemos, independentemente dos recursos que dispomos. Não somos heróis, mas devemos ter disposição para caminhar e apoiar nossos alunos nesta situação. 

A educação remota não se limita à questões tecnológicas ou administrativa, como falamos até agora. É, sobretudo, uma questão de humanidade, de amor, de compaixão e de muita empatia. Muitos dos calouros estavam na euforia de voltar a estudar ou fazer o ensino superior pela primeira vez. Escolheram a modalidade presencial e, de repente, tiveram que assistir aulas remotas. Isso é como um "banho de água fria no inverno"! Tem muito formando adiando sonhos. Graduar leva tempo, envolve uma série de renúncias, planos e preparativos. Adiar a tão sonhada vitória é frustrante! 

Então, o que os alunos precisam fazer? Aprender a ser resilientes, maduros, empáticos e persistentes. Precisam entender que a situação, além de emergencial, é momentânea. Precisam acreditar que tudo passa, que no final tudo ficará bem... 

 

 

Edney Carlos G. Chavier

Professor Subistituto de Química na rede Estadual do Ceará (EM Maria Leal Teixeira) e Coordenador Acadêmico da CESUPE (Parceira de IES com Polos EaD).